Sensação VIII
Me acordei com a sensação estranha de ter dormido mais de um século. Sentia-me descansado...leve. Havia um cheiro perfumado no meu quarto, algo parecido com o cheiro a barro molhado e essência de pinho. Porque será que me ocorreu a palavra barro? Será por o barro estar ligado à Criação segundo Génesis e simbolicamente estar ligado à afirmação da matéria?
Normalmente ao me levantar dou-me logo de cara à janela que fica voltada para a Nascente (não conseguimos fugir à força destas palavras: NASCENTE, nascer, ser o outro dentro do eu...nascemos e vemos nascer todos os dias). Do lado oposto à janela situa-se o guarda-roupa. Há um hábito que sempre tive ao me levantar da cama: Após o culto ao Sol Nascente, um ritual que dura alguns minutos, minutos esses nos quais me comunico com as Vibrações do Universo e recebo as Energias que vagam pelo Espaço em busca de receptores. Vou logo em direcção ao espelho para ver a minha projecção nessa superfície plana e reflectora (o espelho foi inspirado nas superfícies de águas planas cristalinas e talvez tenha como função principal alimentar o nosso ego da mesma forma que a água alimenta a nossa sede) . Não sei porque faço isso. Talvez para me certificar de que tudo está no seu lugar, ou quem sabe...no meu inconsciente há esse medo de envelhecer e fico enfrente ao espelho perscrutando as novas rugas e os fios de cabelo branco que eventualmente tenham nascido (no meu consciente não me importo com estas coisas, pois são meros detalhes) ou então seja memória genética de comportamentos/hábitos num passado longínquo do homem chamado primitivo. Esse ritual repete-se todos os dias logo de manhã. Mas hoje não sei porquê...parece ser um dia diferente. Sinto-me mais leve... Miro o espelho e nenhuma imagem do outro lado aparece. Nenhuma reflexão. Dou voltas à frente do espelho, faço caretas, piruetas...e...nada! Nessas piruetas me desequilibro e o meu corpo se projecta em direcção a essa superfície lisa e reflectora do vidro metalizado. Tento desesperadamente me equilibrar, segurar em algo, mas o meu corpo teimosamente se projecta em direcção ao cristal e aí pensei que não mais poderia evitar a catástrofe: o espelho ia-se partir e a minha seiva derramar-se-ia criando formas diversas no solo onde antes os meus pés nus pisaram…me parecia inevitável, não haveria prodígio de física instintiva que me pudesse restabelecer o equilíbrio e então, deixei o meu corpo ser levado por esse repentino movimento descoordenado de membros tentando segurar desesperadamente em algo existente no ar e, quando cheguei a escassos mícrons do alvo, disse de mim para mim: adeus espelho!!! Tal o meu espanto quando constatei estupefacto que afinal o meu corpo atravessou o espelho. Não conseguia entender aquela negação da matéria. Por incrível que pareça, quando cheguei do outro lado consegui ver a minha imagem projectada em toda a sua dimensão. Esbocei um sorriso e ele correspondeu…me atirei um beijo e em troca recebi outro…pus-me a dançar e a minha projecção comigo dançava, ESTAVAMOS SINCRONIZADOS! Nem precisava me preocupar pois do outro lado havia correspondência, sincronia!
Normalmente ao me levantar dou-me logo de cara à janela que fica voltada para a Nascente (não conseguimos fugir à força destas palavras: NASCENTE, nascer, ser o outro dentro do eu...nascemos e vemos nascer todos os dias). Do lado oposto à janela situa-se o guarda-roupa. Há um hábito que sempre tive ao me levantar da cama: Após o culto ao Sol Nascente, um ritual que dura alguns minutos, minutos esses nos quais me comunico com as Vibrações do Universo e recebo as Energias que vagam pelo Espaço em busca de receptores. Vou logo em direcção ao espelho para ver a minha projecção nessa superfície plana e reflectora (o espelho foi inspirado nas superfícies de águas planas cristalinas e talvez tenha como função principal alimentar o nosso ego da mesma forma que a água alimenta a nossa sede) . Não sei porque faço isso. Talvez para me certificar de que tudo está no seu lugar, ou quem sabe...no meu inconsciente há esse medo de envelhecer e fico enfrente ao espelho perscrutando as novas rugas e os fios de cabelo branco que eventualmente tenham nascido (no meu consciente não me importo com estas coisas, pois são meros detalhes) ou então seja memória genética de comportamentos/hábitos num passado longínquo do homem chamado primitivo. Esse ritual repete-se todos os dias logo de manhã. Mas hoje não sei porquê...parece ser um dia diferente. Sinto-me mais leve... Miro o espelho e nenhuma imagem do outro lado aparece. Nenhuma reflexão. Dou voltas à frente do espelho, faço caretas, piruetas...e...nada! Nessas piruetas me desequilibro e o meu corpo se projecta em direcção a essa superfície lisa e reflectora do vidro metalizado. Tento desesperadamente me equilibrar, segurar em algo, mas o meu corpo teimosamente se projecta em direcção ao cristal e aí pensei que não mais poderia evitar a catástrofe: o espelho ia-se partir e a minha seiva derramar-se-ia criando formas diversas no solo onde antes os meus pés nus pisaram…me parecia inevitável, não haveria prodígio de física instintiva que me pudesse restabelecer o equilíbrio e então, deixei o meu corpo ser levado por esse repentino movimento descoordenado de membros tentando segurar desesperadamente em algo existente no ar e, quando cheguei a escassos mícrons do alvo, disse de mim para mim: adeus espelho!!! Tal o meu espanto quando constatei estupefacto que afinal o meu corpo atravessou o espelho. Não conseguia entender aquela negação da matéria. Por incrível que pareça, quando cheguei do outro lado consegui ver a minha imagem projectada em toda a sua dimensão. Esbocei um sorriso e ele correspondeu…me atirei um beijo e em troca recebi outro…pus-me a dançar e a minha projecção comigo dançava, ESTAVAMOS SINCRONIZADOS! Nem precisava me preocupar pois do outro lado havia correspondência, sincronia!