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Após uma noite bem dormida… essa sensação de acordar com uma disposição como se pudesse tocar o céu com as mãos. Tudo é mais leve, o piso por onde ando quase que não existe…simplesmente não o sinto pois estou nas nuvens…FLUTUO. Saio à rua, tomo o meu café da manhã fora. As pessoas feias me parecem mais belas e as ruas cinzentas me parecem de um colorido jamais visto. Dou bons dias às arvores pelas quais passo…toco ao de leve nas suas folhas e murmuro-lhes palavras carinhosas. Há uma energia que passa de mim para elas e vice-versa.

Sento-me tranquilamente à uma mesa, de preferência situado num canto de onde possa ter um ângulo de visão bem alargado e possa apreciar tudo à minha volta. Mando vir um sumo de laranja para acariciar o meu estômago, um cuscuz para variar e depois um café bem gostoso. Saboreio com deleite o café…começo por me extasiar com o seu aroma…aproximo a chávena dos meus lábios e saboreio esse delicioso líquido…sinto uma sensação agradável a percorrer-me o corpo e vivo intensamente esse momento como se fosse o derradeiro. De seguida me deixo ficar ali durante longos minutos sentindo e curtindo essa energia que me transborda dos poros…me surpreendo a assobiar uma música que nem existe (minhas composições instantâneas) …pago a conta e saio. Lá fora me espera um lindo sol. O céu está de um azul ciano intenso, uma ou outra nuvem bem branca passeando…brincando com formas diversas e engraçadas e eu extasiado com toda essa beleza. Sinto esse roçar suave do vento nas minhas faces enquanto caminho em direcção ao meu atelier. BOM DIA!!!!

Estive ali perto, bem perto! Era uma porta gigantesca… do lado onde me mantinha de pé havia uma luz que me ofuscava os olhos da alma, estático, contemplava o escuro existente do outro lado. Pus-me a pensar: o que haveria do outro lado que merecesse uma tirada em direcção a esse vazio ali mesmo à minha frente? Então cheguei à conclusão que só atravessando-a poderia descobrir o que tanto atormentava o meu espírito ao longo de vários anos. Pois é mesmo assim!!! Deveria me misturar com o escuro para poder encontrar a luz! Dialogar com os entes ali existentes para sacar o conhecimento e de seguida acender uma lâmpada em cada recanto do meu ser simbolizando os momentos de deleite de cada trilha rasgada, cada meta cortada, e então vislumbrar novos horizontes. As portas gigantescas…o escuro… a incerteza… persistem. Resta-me o consolo de saber que essa vontade peregrina prenhe de desejos do desconhecido vai saciando a minha sede a medida que os meus pés e a minha alma me conduzem a novos portos. 

Voltei a esquina dos meus pensamentos… vi-me aí sentado entre os demais que da minha vida fazem parte. Os nossos olhares se cruzavam e nenhum som saia das nossas bocas. O silêncio já fazia parte do dia a dia. Por mais que quiséssemos nenhum som feria o ar, vibrando as nossas emoções contidas. E assim ali continuávamos. Aprendemos a ler nos olhares as alegrias e as angústias do quotidiano. Às vezes nos encarávamos e dos olhos saíam chispas para logo serenarem. O diálogo continua…e então desci ao poço das minhas reflexões, ali…vi-me em duplicado…triplicado…quadruplicado e mais e mais vezes “plicado”. Dirigia-me a um eu e me esbarrava no silêncio, me cansava de questionar naquela mudez quais as razões daquela personalidade múltipla que se repetia como que à frente de espelhos frontais … paralelos. Só os olhares mudam. Num via um olhar de revolta…noutro um olhar sereno, enquanto noutros vislumbrava-se indiferença…esperança, amor, e até alegria. OIÇO AO FUNDO UMA GARGALHADA!!!! Algo quebrou o silêncio…e então volto a cabeça num gesto de quem foi surpreendido num momento de intimidade com o EU e lá estava o outro eu gargalhando e gesticulando como se não fizesse parte dessa família… desse meu mundo. Depois, mirou-me nos olhos e desapareceu misteriosamente, como que evaporado pelo cansaço de impor no silêncio uma gargalhada.

Na quietude da noite me parece escutar a tua voz melodiosa sussurrando bem junto aos meus ouvidos poemas do mar...essa tua voz melodiosa me seduz...me encanta e me transporta para outros mundos jamais descobertos e então, me recordo do teu sorriso (se o sol sorrisse...com todo o seu brilho e calor...por certo não te faria inveja), aquelas pérolas brilhando entre as pétalas dos teus lábios...desabrochando timidamente, faz-me crescer essa vontade de te tocar...sentir. A tua imagem me persegue em sonhos...os teus movimentos lânguidos e esses olhos brilhantes me enfeitiçam. Momentos há em que quero transportar para a tela os sentimentos que me inspiras...mas no afã de te contemplar quedo-me tranquilo curtindo apenas... criando no ar um quadro invisível para que outros não vejam.