Domingo, 20.02.11

Numa corrente de amor

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As flores desabrocharam da crista das ondas. Do fundo do mar saía uma maviosa canção e ao largo apareceram sulcos que aos poucos vinham-se aproximando na indefinição do horizonte distante. A medida que a distancia tornava-se insignificante as formas vinham-se revelando. Fizeram um circulo ao largo e começaram a rodar no sentido dos ponteiros do relógio enquanto ouvia-se a canção que se tornava cada vez mais bela, mais audível. Da terra os adultos viam as crianças inquietas circulando de um lado para o outro murmurando coisas ao ouvido umas das outras. Essa canção só era audível pelas crianças e também pelas formas que se aproximavam. Juntaram-se, fizeram também um grande círculo e começaram a rodar no sentido contrário aos ponteiros do relógio. Os anciãos viam os círculos da roda no mar e na terra e questionaram do porque dessa roda e da alegria dessas crianças...também questionaram a razão desse movimento em sentidos contrários, mas após uma leve reflexão chegaram a conclusão que os movimentos contrários criam pontos de encontro, pontos de contacto no espaço e desenvolve uma energia altamente renovável. Os círculos se aproximavam como que atraídos por uma energia maior ( a energia do amor), a canção tornava-se ainda mais audível. Era tardinha, o sol punha-se no horizonte e pintava acasalando em harmonia o céu e a vasta extensão de água com cores alegres que também vibravam ao ritmo dessa canção dos Deuses. As nuvens sorriam e atiravam beijos à Terra. Dos outros extremos do arquipélago vinham beijos transportados na crista das ondas e afagos vindo ao sabor da brisa. Os pássaros marinhos não ficaram indiferentes a essa onda de amor e também juntaram-se à festa e voavam de um círculo ao outro tocando ao de leve com as suas asas coloridas ora as crianças, ora esses seres que se aproximavam cada vez mais da praia como que lhes atribuindo uma bênção vinda dos céus. A medida que se aproximavam da praia descortinavam-se as formas... eram formas elípticas convexas. Furei o protocolo do momento e me aproximei a fim de enxergar de perto essa maravilha e saber de que era composto o círculo marinho e não tardei a aperceber-me de que esses seres que vinham devorando a distância entre o mar aberto e a praia eram umas tartarugas. As crianças dirigiam-se também elas à praia. Era como se tivessem marcado ali um encontro, uma reunião para decidir coisas importantes (o futuro da terra). Dessa corrente de amor sairiam por certo decisões e acções e atomizariam esse amor a todos os cantos do mundo para que outras crianças e representantes dos animais dele pudessem desfrutar e então...só então partilhariam com os adultos essa força invencível.

 

Vejo sempre formas emergindo do meio da Baía do Porto Grande! Essas formas assumem plasticidade diversa. Mas também escuto sempre música no ar. Às vezes acompanho essa música com um ligeiro assobiar introduzindo notas soltas perceptíveis por ouvidos sensíveis. Essas imagens e sons me perseguem em sonhos e neles coexistem outros odores e sabores de Cabo Verde.

 

Se penetrássemos no mundo das crianças por certo aprenderíamos muito e traçaríamos uma nova arquitectura do mundo e uma nova estabilidade. Não nos puxariam pelas orelhas mas nos mirariam nos olhos e com a doçura da voz que lhes é peculiar e sua pureza de cristal nos ensinariam os meandros desse mundo que para nós esfumou-se com a nossa entrada no mundo adulto, mundo esse em que nos julgamos sábios...vividos...experientes, mas que nos escapam coisas simples da vida. Me embriago no sorriso de uma criança. Uma embriaguez não etílica, essa doce embriaguez que nos faz sentir o seu mundo e nos desperta de novo para o sonho... sonhar sem as limitações do adulto.

 

Que as flores continuem desabrochando na crista das ondas.

publicado por terraterra às 22:10 | link do post | comentar
Domingo, 23.01.11

O Ovo do Futuro

Há um grito sufocado na garganta do Homem da rua! há uma expressão encoberta no olhar, mas sobretudo há a intenção não realizada de coisas sonhadas nas noites de insónia. Se para pular do alto da montanha há que se ter asas...ao menos asas da imaginação para se chegar ao ponto de experimentar essa sensação do vazio ao redor e ter metas, um lugar onde aterrar. A leveza da alma versus o chumbo do corpo que teimosamente reage positivamente à gravidade...à força. A gravidade dos assuntos que no dia a dia nos assolam e que inexoravelmente nos levam aos extremos do pensamento fatalista de um déjà vu ou será déjà vécu? As imagens flutuam no ar...no espaço circundante... e as respostas são várias...diversas... onde cada um escolhe a/as que lhe convém. A mim me convém uma resposta colectiva positiva, onde as soluções são apontadas e abre-se o espaço para a participação de todos. Continua essa sensação do grito preso na garganta da Mulher em casa/fora...mientras tanto continuo insistindo em quebrar o silêncio no Ovo do Futuro.
publicado por terraterra às 18:02 | link do post | comentar
Sábado, 08.01.11

Sensação VIII

Me acordei com a sensação estranha de ter dormido mais de um século. Sentia-me descansado...leve. Havia um cheiro perfumado no meu quarto, algo parecido com o cheiro a barro molhado e essência de pinho. Porque será que me ocorreu a palavra barro? Será por o barro estar ligado à Criação segundo Génesis e simbolicamente estar ligado à afirmação da matéria?
Normalmente ao me levantar dou-me logo de cara à janela que fica voltada para a  Nascente (não conseguimos fugir à força destas palavras: NASCENTE, nascer, ser o outro dentro do eu...nascemos e vemos nascer todos os dias). Do lado oposto à janela situa-se o guarda-roupa. Há um hábito que sempre tive ao me levantar da cama: Após o culto ao Sol Nascente, um ritual que dura alguns minutos, minutos esses nos quais me comunico com as Vibrações do Universo e recebo as Energias que vagam pelo Espaço em busca de receptores. Vou logo em direcção ao espelho para ver a minha projecção nessa superfície plana e reflectora (o espelho foi inspirado nas superfícies de águas planas cristalinas e talvez tenha como função principal alimentar o nosso ego da mesma forma que a água alimenta a nossa sede) . Não sei porque faço isso. Talvez para me certificar de que tudo está no seu lugar, ou quem sabe...no meu inconsciente há esse medo de envelhecer e fico enfrente ao espelho perscrutando as novas rugas e os fios de cabelo branco que eventualmente tenham nascido (no meu consciente não me importo com estas coisas, pois são meros detalhes) ou então seja memória genética de comportamentos/hábitos  num passado longínquo do homem chamado primitivo. Esse ritual repete-se todos os dias logo de manhã. Mas hoje não sei porquê...parece ser um dia diferente. Sinto-me mais leve... Miro o espelho e nenhuma imagem do outro lado aparece. Nenhuma reflexão. Dou voltas à frente do espelho, faço caretas, piruetas...e...nada!   Nessas piruetas me desequilibro e o meu corpo se projecta em direcção a essa superfície lisa e reflectora do vidro metalizado. Tento desesperadamente me equilibrar, segurar em algo, mas o meu corpo teimosamente se projecta em direcção ao cristal e aí pensei que não mais  poderia evitar a catástrofe: o espelho ia-se partir e a minha seiva derramar-se-ia criando formas diversas no solo onde  antes os meus pés nus pisaram…me parecia inevitável, não haveria prodígio de física instintiva que me pudesse restabelecer o equilíbrio e então, deixei o meu corpo ser levado por esse repentino movimento descoordenado de membros tentando segurar desesperadamente em algo existente no ar e, quando cheguei a escassos mícrons do alvo, disse de mim para mim: adeus espelho!!! Tal o meu espanto quando constatei estupefacto que afinal o meu corpo atravessou o espelho. Não conseguia entender aquela negação da matéria. Por incrível que pareça, quando cheguei do outro lado consegui ver a minha imagem projectada em toda a sua dimensão. Esbocei um sorriso e ele correspondeu…me atirei um beijo e em troca recebi outro…pus-me a dançar e a minha projecção comigo dançava, ESTAVAMOS SINCRONIZADOS! Nem precisava me preocupar pois do outro lado havia correspondência, sincronia!
publicado por terraterra às 19:50 | link do post | comentar
Quarta-feira, 20.01.10

Sensação VII

São enormes essas asas, sobrevoam as pessoas, as casas e tudo o mais, mas têm especial interesse pelas coisas vivas e de preferência que sejam pensantes. De entre as brumas do pensamento surgem ideias turvas, baças, esbatidas à espera de serem reveladas num suporte qualquer ou então que os contornos comecem a aparecer no espaço imaginário das formas. Somos nós também imagens e nada mais, turvas, baças, à espera de sermos revelados numa sociedade de gentes não imagem simples imagem. A verdade reside nas conversas não ditas, nas palavras omitidas na ânsia de agradar os amigos enquanto a imagem vai-se tornando mais turva protelando a sua revelação na mente de cada observador distraído. A mão é estendida fora do berço quando deveria acarinhar desde o berço e transmitir apartir dali os valores sacros de uma sociedade que no fundo sonha com algo maior mas tem medo de trair as suas emoções mais íntimas junto do irmão não consanguíneo/consanguíneo, mostrar por gestos e acções que essas asas enormes servem para abrigar no momento certo àqueles que delas necessitem.
publicado por terraterra às 14:47 | link do post | comentar | ver comentários (2)
Quinta-feira, 22.10.09

Sensação VI

Eles sabem que estamos cá mas não os vemos. Só alguns os podem ver mas os que podem vê-los são interditos de contar que os viram porque seriam considerados loucos. Vivemos em mundos pararelos, nos esbarramos a toda a hora em pontos de cruzamento (um paradoxo sem consequências maiores) e não sentimos. Às vezes podemos sentir a presença deles mas isso só acontece quando eles assim o desejarem. Ou então só os seus dignos embaixadores os podem ver ou sentir a toda a hora porque esses tais embaixadores são o elo da ligação entre as diversas dimensões. Andam pelas ruas nas horas que não existem no relógio e usam um espaço tempo intermediário entre o dia e a noite para se reunirem e tratar das coisas sérias da Terra. Podem assumir formas diversas pois são detentores da maior plasticidade a nível do Cosmo, podem viajar quando bem entenderem para outras dimensões em outras galáxias existentes, são o braço do poder de uma força maior e tecem redes sociais fluídas para troca telepática de informações. Tudo depende da vontade deles. Mas nós por cá temos essa sensação da existência deles mas não admitimos tal sensação. Ludibriamos os nossos instintos para tentarmos estar na racionalidade...nem que seja uma não racionalidade mascarada da racionalidade.
publicado por terraterra às 21:42 | link do post | comentar | ver comentários (3)

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